1 de fevereiro de 2010
As obras e as rendas, parte 1
Tive até há tempos uma inquilina. A Dona Juventina, que não era flor que se cheirasse. Não deixou descendência nem saudade e morreu, imagino que tristemente, num lar. Apesar de a ter conhecido bastante tarde (ela era inquilina do meu avô) e ela me ter enfernizado a vida o quanto pôde, tenho uma réstia de pena por isso. E no meio de toda a história da minha casa nova, ela é apenas uma parte da novela, da insanidade que foi todo o processo. No fim de contas, simplesmente fez o que se esperava de um inquilino idoso e sozinho com poucos rendimentos: fechou-se com unhas e dentes em casa, e deixou-a cair aos poucos (além de alimentar pombas aos milhares).
A história começa quando o meu avô emigrou para o Brasil, há várias décadas (penso que por problemas com o regime). Alugou a casa onde tinha crescido com a família, e onde vivia na altura com a minha mãe e a minha avó, e foi para o Rio de Janeiro. Voltou nem passado um ano, mas entretanto tinha alugado a casa, e por isso teve de alugar outra para ele, na Boavista.
A família que lhe tinha alugado a casa originalmente, penso que nos anos sessenta, cresceu e foi saindo. O patriarca ficou e antes de morrer casou com a empregada - a Dona Juventina, que acabou por lá viver até aos 90 e poucos.
E assim, durante anos a fio, os meus avós pagavam uma renda baixíssima, e recebiam outra ainda mais baixa, por uma casa três vezes maior. Claro está, nenhuma obra foi alguma vez feita, nem por eles, nem pela senhora, em nenhuma das casas (isto também não é novidade para ninguém que viva em Portugal).
Anos mais tarde, eu e o meu irmão herdámos a casa, com a inquilina lá dentro. Lembro-me de, de vez em quando, receber umas chamadas em que ela protestava: entra-me água dentro de casa, isto o tempo anda muito mau, têm de fazer obras. E nós: com 40 euros de renda vitalícia não dá para fazer grande coisa, tenha paciência. Mal sabíamos.
Eventualmente descobrimos que havia programas que financiavam a recuperação de casas no centro histórico. Bestial, vamos avançar com isso. A casa recupera-se, a inquilina paga uma renda actualizada, e a segurança social subsidia-lhe a mesma. Além disso dão-lhe uma casa temporária para ela estar enquanto as obras durarem. It's a win-win situation.
Mal sabíamos.
posto pelo Alexandre às 05:12
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